quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Hemispheres - Rush (1978)

Hemispheres é o sexto disco de estúdio do Rush, lançado em Outubro de 1978.

Similar ao trabalho 2112 (lançado em 1976) Hemispheres contem uma música épica de longa duração, ocupando todo um lado do disco (a Cygnus X-1 Book II: Hemispheres, uma "space opera" obrigatória que, a exemplo de 2112, também é divida em capítulos) e um segundo lado com algumas músicas mais convencionalmente executadas (Circunstances, The Trees e La Villa Strangiato).

A banda está em ótima forma.

O Rush é, como sempre, um trio que vale por uma orquestra e nesse disco não é diferente.
Todo disco é tão bem instrumentalmente elaborado e preenchido que você até se esquece que são apenas 3 pessoas fazendo tudo. Temos Geddy Lee atacando nos baixos, no Mini Moog e no sintetizador polifônico, além dos vocais. Temos Alex Lifeson nas guitarras, violões de 6 e 12 cordas, no violão de Nylon, na guitarra sintetizadora. E, finalmente, Neil Peart, como sempre, na bateria e também nos sinos de orquestra, sinos, tímpanos, gongo, cow-bells, blocks, carrilhão e crótalos, além da composição das letras, que são, mais uma vez, geniais.

Por falar em letras elas continuam seguindo a linha desenvolvida desde o segundo álbum, Fly By Night. Em Hemispheres Neil Peart continua usando o imaginário de fantasia e ficção científica.

A primeira música, Cygnus X-1 Book II: Hemispheres, é a segunda parte da composição Book I: The Voyage presente no disco A Farewell to Kings (1977).

Trata-se de uma ficção espacial, filosófica e mística sobre uma galáxia distante chamada Cygnus.

Cygnus X-1 é um misterioso buraco negro dessa galáxia.

Um explorador a bordo de uma nave chamada Rocinante é aspirado pelo buraco negro e vai parar em outra dimensão. Aqui cabe lembrar que Rocinante é o mesmo nome do cavalo de Dom Quixote de La Mancha, com certeza há uma premeditada escolha simbólica nesse nome.

Quanto mais o nosso explorador adentra ao buraco negro mais difícil fica de controlar a nave, até que ela é puxada com tudo pela força gravitacional e desaparece. Suas últimas palavras são:

"Sound and fury drown my heart/Every nerve is torn apart."

Aqui termina o Book I.

O Book II o explorador entra novamente na história, emergindo no Olimpo, numa outra dimensão, onde ele testemunha os deuses Apolo e Dionísio na guerra entre mente e coração.

Apolo é o líder das pessoas emocionais e o de Dionísio das pessoas emocionais.

Enquanto Apolo mostra às pessoas como construir cidades e explorar as profundezas da ciência e do conhecimento Dionísio atrai as pessoas para as florestas selvagens e os ensina a linguagem do sexo, da paixão e do amor.

Um poderia completar o outro mas ambos se encontram em luta constante.

A capa do disco temos a sugestão dessa história.
Vemos dois homens, um impecavelmente vestido (representando Apolo) e outro nu (representando Dionísio). Ambos estão em cima de um cérebro, Dionísio no lado esquerdo e Apolo no lado direito, representando, respectivamente, o lado emocional e o lado racional.




A música seguinte, "Circunstances", é a mais acessível do disco. Neil Peart narra aqui agruras e desilusões vividas na Inglaterra. Afinal, ele também tem alma.

The Trees é uma música fantástica, uma espécie de fábula surrealista sobre a briga entre árvores em uma floresta.

A última música, La Villa Strangiato, é uma ambiciosa peça instrumental de nove minutos e meio, cheia de improvisações. Certamente uma das melhores músicas da banda.

Hemispheres obviamente teve uma boa recepção da crítica e é colocado na categoria de clássico por muitos especialistas da área. Não apenas sucesso de crítica mas de público, nos Estados Unidos a banda recebeu o quarto disco de ouro consecutivo por conta do lançamento desse disco.

Críticos como Greg Prato (da Allmusic), Brendan Schoer (da Sputnik Music) e Michael Bloom (da Rolling Stones) rasgam elogios. Greg diz que o disco representa algo intermediário entre os anos 70 (2112) com a fase que marca o início dos anos 80 (Permanent Waves e Moving Pictures).
Michael Bloom expande e aprofunda essa mesma análise, enfatizando a importância de discos como esse na formação do que mais tarde conheceríamos como Metal Progressivo.
O crítico Brendam Schoer diz que Hemispheres é ótimo, porém menos acessível do que seus predecessores.

A opinião dos críticos é a mesma minha. Trata-se de um disco excelente, muito bem instrumentalizado, com ótimos temas e um estilo intermediário entre a fase setentista e oitentista da banda. Um clássico, sem sombra de dúvida.

Ouça o disco aqui:


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