quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Hemispheres - Rush (1978)

Hemispheres é o sexto disco de estúdio do Rush, lançado em Outubro de 1978.

Similar ao trabalho 2112 (lançado em 1976) Hemispheres contem uma música épica de longa duração, ocupando todo um lado do disco (a Cygnus X-1 Book II: Hemispheres, uma "space opera" obrigatória que, a exemplo de 2112, também é divida em capítulos) e um segundo lado com algumas músicas mais convencionalmente executadas (Circunstances, The Trees e La Villa Strangiato).

A banda está em ótima forma.

O Rush é, como sempre, um trio que vale por uma orquestra e nesse disco não é diferente.
Todo disco é tão bem instrumentalmente elaborado e preenchido que você até se esquece que são apenas 3 pessoas fazendo tudo. Temos Geddy Lee atacando nos baixos, no Mini Moog e no sintetizador polifônico, além dos vocais. Temos Alex Lifeson nas guitarras, violões de 6 e 12 cordas, no violão de Nylon, na guitarra sintetizadora. E, finalmente, Neil Peart, como sempre, na bateria e também nos sinos de orquestra, sinos, tímpanos, gongo, cow-bells, blocks, carrilhão e crótalos, além da composição das letras, que são, mais uma vez, geniais.

Por falar em letras elas continuam seguindo a linha desenvolvida desde o segundo álbum, Fly By Night. Em Hemispheres Neil Peart continua usando o imaginário de fantasia e ficção científica.

A primeira música, Cygnus X-1 Book II: Hemispheres, é a segunda parte da composição Book I: The Voyage presente no disco A Farewell to Kings (1977).

Trata-se de uma ficção espacial, filosófica e mística sobre uma galáxia distante chamada Cygnus.

Cygnus X-1 é um misterioso buraco negro dessa galáxia.

Um explorador a bordo de uma nave chamada Rocinante é aspirado pelo buraco negro e vai parar em outra dimensão. Aqui cabe lembrar que Rocinante é o mesmo nome do cavalo de Dom Quixote de La Mancha, com certeza há uma premeditada escolha simbólica nesse nome.

Quanto mais o nosso explorador adentra ao buraco negro mais difícil fica de controlar a nave, até que ela é puxada com tudo pela força gravitacional e desaparece. Suas últimas palavras são:

"Sound and fury drown my heart/Every nerve is torn apart."

Aqui termina o Book I.

O Book II o explorador entra novamente na história, emergindo no Olimpo, numa outra dimensão, onde ele testemunha os deuses Apolo e Dionísio na guerra entre mente e coração.

Apolo é o líder das pessoas emocionais e o de Dionísio das pessoas emocionais.

Enquanto Apolo mostra às pessoas como construir cidades e explorar as profundezas da ciência e do conhecimento Dionísio atrai as pessoas para as florestas selvagens e os ensina a linguagem do sexo, da paixão e do amor.

Um poderia completar o outro mas ambos se encontram em luta constante.

A capa do disco temos a sugestão dessa história.
Vemos dois homens, um impecavelmente vestido (representando Apolo) e outro nu (representando Dionísio). Ambos estão em cima de um cérebro, Dionísio no lado esquerdo e Apolo no lado direito, representando, respectivamente, o lado emocional e o lado racional.




A música seguinte, "Circunstances", é a mais acessível do disco. Neil Peart narra aqui agruras e desilusões vividas na Inglaterra. Afinal, ele também tem alma.

The Trees é uma música fantástica, uma espécie de fábula surrealista sobre a briga entre árvores em uma floresta.

A última música, La Villa Strangiato, é uma ambiciosa peça instrumental de nove minutos e meio, cheia de improvisações. Certamente uma das melhores músicas da banda.

Hemispheres obviamente teve uma boa recepção da crítica e é colocado na categoria de clássico por muitos especialistas da área. Não apenas sucesso de crítica mas de público, nos Estados Unidos a banda recebeu o quarto disco de ouro consecutivo por conta do lançamento desse disco.

Críticos como Greg Prato (da Allmusic), Brendan Schoer (da Sputnik Music) e Michael Bloom (da Rolling Stones) rasgam elogios. Greg diz que o disco representa algo intermediário entre os anos 70 (2112) com a fase que marca o início dos anos 80 (Permanent Waves e Moving Pictures).
Michael Bloom expande e aprofunda essa mesma análise, enfatizando a importância de discos como esse na formação do que mais tarde conheceríamos como Metal Progressivo.
O crítico Brendam Schoer diz que Hemispheres é ótimo, porém menos acessível do que seus predecessores.

A opinião dos críticos é a mesma minha. Trata-se de um disco excelente, muito bem instrumentalizado, com ótimos temas e um estilo intermediário entre a fase setentista e oitentista da banda. Um clássico, sem sombra de dúvida.

Ouça o disco aqui:


The Cage - Tygers of Pan Tang (1983)


Quarto disco da banda, lançado entre 1982 e 1983.
Uma palavra define esse disco: FAROFA.
É um disco marcado por uma orientação bem comercial, que resultou na época 200.000 cópias vendidas, emplacando com 2 músicas no Reino Unido, Rendezvous e Love Position Number 9, uma famosa canção de Jerry Leiber e Mike Stoller que já foi tocada por bandas como Ronnie James Dio and The Prophets, The Ventures, White Stripes e Robert Plant.
Muito dessa orientação ao mercado é pressão de gravadora. Foi um momento difícil para a banda que teve um grande desentendimento com a MCA, que não estavam preparados para promovê-los, a menos que tocassem mais covers. Eles posteriormente tentaram rescindir seu contrato, mas as exigências da MCA ultrapassaram a vontade de qualquer outra gravadora de pagar para liberar a banda, então a banda se separou em meio a um grande sentimento de frustração.
A frustração dos membros do grupo se estenderam, obviamente, aos fãs que viram The Cage mais como um disco do Def Leppard do que do Tygers of Pan Tang.
Eduardo Rivadavia, crítico do Allmusic, escreveu que o disco representa um declínio vertiginoso da banda. Na verdade ele não está tão errado. Apesar de NÃO ser um disco ruim, há claramente aqui um trabalho bem menos inspirado do que a banda poderia fazer. A pujança dos dois primeiros discos (Wild Cat e Spellbound) quase não existe mais praticamente. Desde o Crazy Nights, o terceiro disco da banda, vemos a banda dando sinais de que entraria de cabeça num Hard Rock bem mais comportado.
Por essa escolha estilística (que nem é tão escolha assim) o disco torna-se datado pois é carregado de clichês da época. Músicas como "Rendezvous", "Letter from L.A." e "Lonely at the Top", mostram harmonias bregas de coros vocais e sintetizadores desnecessários. Ouvindo hoje o disco ele pode resgatar um sentimento nostálgico e pode agradar. Esses clichês musicais do Hard Rock são aqueles exageradamente explorados em trilha de filmes como Rocky, com o Survivors, filmes que eu cresci vendo.
É um disco comercial, eu concordo, é um declínio vertiginoso, eu concordo.
Só discordo de muitos ao dizer que é um disco insuportável, não é. As músicas são no mínimo agradáveis, quase todas elas, com suas melodias pegajosas. Refrões como em "The Actor" e "Paris by Air" são inconfundíveis e, sem dúvida, criar melodias grudentas é um certo talento. Apesar de muitos torcerem no nariz sem a farofa no Hard Rock farofa a vida seria um erro.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Deep Purple - Stormbringer (1974)


Lançado em 1974 Stormbringer é o nono disco de estúdio do Deep Purple.

Não se trata de um disco fácil para quem é acostumado com algumas características da banda, a surpresa do disco é inserir elementos de Funk e Soul nas músicas. Essa mistura pode soar interessante para alguns e um pouco decepcionante para outros. Ritchie Blackmore está entre esse "outros". Ele se incomodou bastante com o andamento do disco pois nunca foi muito entusiasta dos estilos. É, inclusive, o disco que vai marcar a sua saída da banda. Depois da turnê européia de divulgação do álbum, Blackmore deixa o grupo em 7 de abril de 1975 para formar o Rainbow com alguns membros do Elf, o vocalista Ronnie James Dio (vocês devem conhecer), o tecladista Mickey Lee Soule, o baixista Craig Gruber e o baterista Gary Driscoll.

Talvez o disco realmente possa ser visto como "morno" pois ele saiu logo depois do fantástico Burn, ainda no mesmo ano. Isso pode ter dado ao disco uma espécie de "aura" de sobras do disco anterior.
Isso não quer dizer que é um disco ruim, muito pelo contrário, se toda "sobra" fosse assim tão boa eu estaria muito feliz.

No entanto as comparações são inevitáveis, enquanto Burn é um disco feroz e agressivo o Stormbringer é um disco mais suave. 

Algumas músicas tem um andamento lento e relaxante, que não explodem em fúria e dramaticidade, como se espera do Deee Purple, algo como Child in Time. Músicas como Love Don't Mean a Thing, The Gypsy e Holy Man, podem entendiar os mais afetos ao peso e a famosa "pegada" da banda.

Se você conseguir não criar expectativas "deep-purpleanas" nas músicas você conseguirá curtir o disco melhor. 

É um disco com outra proposta e deve ser visto como tal. 
Se quiser ouvir o Burn escute-o, é simples. A única coisa que você conseguirá identificar de "resquício do Burn" por excelência é Lady Double Dealer e High Ball Shooter que seguem as linhas antes desenhada nas músicas You Fool No One e What's Going on Here.

Holy Man e You Can’t Do It Right (With The One You Love), por exemplo, tem uma clara pegada de Soul nunca antes explorada pela banda, especialmente nas linhas vocais, e Funk, nas linhas instrumentais, e o resultado é interessantíssimo. É um sacrilégio cogitar a menor possibilidade de considerá-las músicas ruins.

Alex Henderson, crítico da Allmusic, reflete pra mim o espírito dividido que seguem nas análises deste disco. Stormbringer, para ele, pode não ser considerado um álbum brilhante como é o Machine Head e o Who Do We Think We Are, mas que pode, sim, conter alguns clássicos. Ele destaca músicas como Lady Double Dealer, a música título Stormbringer, High Ball Shooter e a melancólica balada Soldier of Fortune.

Discordo fortemente. É um disco brilhante. Eu destaco todas as músicas e rejeito qualquer análise feita com base no disco anterior sendo que não há, sequer, a mesma proposta. Dado isso, sim, considero Stormbringer um clássico.


Curiosidades:


A capa
A imagem de capa de Stormbringer é baseada numa foto famosa. Em 8 de Julho de 1927 um tornado passou perto da cidade de Jasper (no Estado americano de Minnesota) e foi fotografado por uma moça chamada Lucille Handberg. Uma foto magnífica. Veja abaixo.


A imagem, que por si só já nasceu imortalizada, conseguiu consagrar-se de vez na capa do disco não apenas do Deep Purple, Stormbringer, mas também na capa do disco Tinderbox, de Siouxsie and the Banshees.

O título
Stormbringer é o nome de uma espada mágica descrita em diversos romances de Michael Moorcock, um escritor britânico de ficção-científica e fantasia. Coverdale (que era o co-compositor da música, além de Blackmore) disse desconhecer a origem do termo até o lançamento do disco. Alguns anos mais tarde, Moorcock colaborou com Blue Öyster Cult para escrever "Black Blade", uma canção sobre a espada Stormbringer.



quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Zipper Catches Skin - Alice Cooper (1982)

Estamos em 1982 e Alice Cooper já está com seu décimo quarto álbum, Zipper Catches Skin, um disco conhecido por ser ao mesmo tempo seco, enérgico e eclético. Inventivo, o disco explora uma mistura de Hard Rock, Pop Rock, Garage, Punk Rock e algumas influências Post-Punks.
Os grandes destaques do disco são certamente os riffs e as letras, a maioria delas genialmente sarcásticas e cômicas.
É o segundo dos chamados "blackouts albuns" de Alice Cooper, álbuns que Alice gravou mas não se lembra de nenhum dos detalhes da gravação pelo abuso de álcool e outras substâncias que utilizava largamente. Os outros dois discos dessa "fase" são o Dada e o Special Forces.

O disco abre com Zorro's Ascent, com excelentes riffs, e segue com Make That Money, uma música mais puxada para o Hard Rock, muito boa também. A música seguinte, I'm the Future, vale um comentário mais específico à parte. Ela esteve presente em um dos dois singles desse disco e foi escrita por Gary Osborne e Lalo Schifrin para trilha sonora do filme canadense "Class of 1984" (um filme bem interessante, diga-se de passagem). Trata-se de uma semi-balada Pop com bastante uso de sintetizadores. A quarta música é No Baloney Homosapiens, uma música que vai te remeter um pouco à fase setentista de Alice, algo entre o disco Billion Dollar Babies (1973) e o Lace and Whiskey (1977).  Adaptable segue a linha Hard Rock de Make That Money, um pouco mais melódica, com um refrão bastante grudento e, também, ótimos riffs. I Like Girls, uma das minhas preferidas, segue com um andamento meio Rockabilly. Remarkably Insincere é um Hard mais puxado para o Punk, lembrando um pouco a fase do From the Inside (1978).  Tag, You're It dá sequência ao disco com uma interessante base de riffs e vozes meio sussurradas. I Better Be God é a melhor música do disco, com uma abertura de riffs interessantíssimas que lembram de longe Phantom of the Opera do Iron Maiden, e um andamento totalmente puxado para um Rock setentista típico de bandas como Nazareth. I'm Alive encerra o disco na mesma linha de Adaptable e Remarkably Insincere.
Resumindo, pode não ser uma obra prima mas é certamente um bom disco de Rock. Uma prova que Alice Cooper conseguiu sempre manter sua criatividade em evidência, mesmo nas piores fases de sua vida.

domingo, 26 de outubro de 2014

Crítica: Head Over Heels (1971)


Head Over Heels é um power-trio norte-americano (mais especificamente de Detroit) formado por Paul Frank nos vocais e na guitarra, Michael Urso no baixo e John Bredeau na bateria.
A banda teve uma carreira relâmpago, mal começou e já terminou. Eles se formaram em 1970 e acabaram em 1971 deixando apenas um disco para contar a história, Head Over Heels. E QUE DISCO! Trata-se de um material excelente (um dos melhores que eu já ouvi) que flerta Rock pesado, belíssimas baladas e Blues no melhor estilo Led Zeppelin, Black Sabbath, Bad Company, Free, Montrose, Budgie, James Gang e toda essa galera da velha guarda setentista, pra mim a melhor fase do Rock.


Os grandes destaques do disco é a pesadíssima Road Runner e Red Rooster, um cover de Willie Dixon. Porém, mais do que qualquer música em particular Paul Frank é o grande destaque do disco. Ele não é apenas um bom guitarrista mas um bom vocalista também. Não apenas isso, é ele quem conduz as linhas melódicas e o andamento de todas as músicas, foi ele, inclusive que iniciou a banda, Head Over Heels é uma ideia que ele já tinha desde quando ainda estava no colegial.
Sua digital foi impressa nesse disco e, embora tivesse uma carreira muito curta, conquistou o que muito músico não conseguiu conquistar com mais tempo de carreira, seguidores e um certo status de "Cult", que tende a durar pra sempre. Head Over Heels de 1971 ainda hoje é lembrado como um dos melhores discos desconhecidos da história do Rock e material obrigatório para quem gosta de boa música.

sábado, 13 de setembro de 2014

Dica Independente - Facção Caipira

Estou iniciando aqui a sessão "Dica Independente" do blog que tem como objetivo de apresentar bandas menos conhecidas do Brasil. O único critério aqui é se eu gostar da banda., então, se você confia no meu julgamento você poderá gostar das bandas que serão apresentadas aqui.

A primeira banda é Facção Caipira, uma banda de Blues Rock bastante interessante.


Segue a descrição posta em seu Facebook:

Grupo de indivíduos partidários lutando pela mesma causa: Um blues pra lá de rock ‘n roll.
Caipira indisposto a seguir tendências, trilha de sandálias fazendo barulho por todo lugar que passa.
E assim que tiraram os freios dessa carroça, sem direção hidráulica ou ar condicionado, FACÇÃO CAIPIRA toma a estrada da musica a todo galope!

FACÇÃO CAIPIRA nasceu em casa em 2009 com sua primeira formação, com Jan Santoro no Violão, João Victor Rolim na Guitarra, Vinicius Camara no Baixo e Tieê Ortlieb com a intenção de tocar o que gosta e cantar o que quiser. Hoje conta com a presença de Daniel Leon na Gaita e de Renan Carriço na bateria - ainda com a mesma intenção, a pedido da musica - a banda se consolidou em estúdio até o som sair pelas paredes.

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Site
Youtube

Versão de Disparada, famosa  canção escrita por Geraldo Vandré e Théo de Barros e interpretada por Jair Rodrigues


Chocolate Amargo ( Hey Joe Theatro Municipal de Niterói)


Blues Brasileiro Foragido Americano



quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Crítica: Master of Rings - Helloween

 Master of Rings - Helloween

Toda banda tem seus altos e baixos, é normal. Toda banda também passa por fases difíceis, brigas, desentendimentos e catástrofes. O Helloween, no final da década de 80 e no início da década de 90, parecia que estava passando por todos esses percalços ao mesmo tempo. A banda tinha lançado dois discos muito controversos nessa época, o Pink Bubbles Go Aple (de 1991) e o "progressive-pop" Chameleon (de 1993), considerado até hoje um dos álbuns mais "esquisitos" da banda de todos os tempos.
O fracasso de vendas de ambos os discos foi tão traumático que forçou eles abandonar o contrato com a lucrativa EMI.
Soma-se isso aos problemas internos que a banda estava passando naquele momento. Michael Kiske, o vocalista clássico, resolve sair da banda no final da turnê do disco Chameleon para se lançar numa carreira solo (sem muitos trunfos) e o baterista/co-fundador da banda, Ingo Schwichtenberg, se envolve em incidentes com drogas no Japão e acaba se afastando do grupo.

Tudo havia se desmantelado do nada.

A banda, se quisesse continuar sua carreira, deveria recomeçar do zero.
E foi o que eles fizeram.

Michael Kiske foi substituído por Andi Deris (do Pink Cream 69) e Ingo Schwichtenberg  foi substituído por Richie Abdel-Nabi (Babylon 27 e Das Auge Gottes) e, em seguida, por Uli Kusch (do Gamma Ray).

A banda assinou com uma gravadora independente da Inglaterra, a Castle Communications, muito menor que a EMI mas que tinha certa importância cultural nos anos 80, responsável por realizar muitas compilações de discos de Heavy Metal com a série "Metal Killers", o que levou-a formatar seu próprio selo especializado no estilo, o "Raw Power".

Toda essa movimentação da banda culminou no Master of Rings, de 1994, um disco que retorna as origens do Power Metal que consagrou a banda.

Trata-se de um daqueles discos que se aproveita 100%. Não há nenhuma música ruim ou mediana no disco inteiro. Sole Survivor, Where the Rain Grows, Why?, Secret Alibi e Still We Go são representantes notáveis do estilo clássico da banda, ótimas músicas e muito bem executadas.
Take Me Home é outra música sensacional, pesada, mas que foge totalmente da linha tradicional da banda.
Mr. Ego é outra excelente música e chama muito atenção por um motivo muito particular, a letra. Há rumores interessantes de que a letra, que é um escárnio total, fosse dedicada ao ex-vocalista Michael Kiske, como forma de provocação.
Perfect Gentleman, é outra música interessante, com uma pegada melódica meio "medieval" e com uma letra muito engraçada.
The Game is On é outra música boa do disco e também uma prova de que é possível flertar com experimentalismo sem que pra isso seja necessário sacrificar a qualidade e a identidade da banda. A música trata sobre o vício e video-game e, para ambientar o tema, utiliza samples de sons de jogos como Tetris acompanhando os riffs de guitarra. O resultado é bem interessante.
In The Middle Of A Heartbeat é uma balada romântica, no melhor estilo Heavy n' Hard, lembrando um pouco o Accept, outra ótima banda alemã.

O saldo final é bem positivo.

Tanto a qualidade quanto as vendas do disco foram bem sucedidas.
Quando esse disco estreou, em muitos países, chegou a ser um dos álbuns mais vendidos do ano.

Master of Rings representa o Helloween nascendo novamente, virando a mesa do jogo, desafiando o destino e mostrando uma determinação fora de série. A energia foi tão forte que deu a impressão da banda estar lançando o seu primeiro disco, novamente.

Acho que nada explica melhor esse espírito do que a letra da música que encerra o disco, Still We Go

No começo
Do nada
Nós tivemos um sonho
E agora é Helloween

Aumente a velocidade para um limite maior
Mude a marcha, estamos perdendo nosso ânimo
Não vamos seguir seu conselho especial
Estamos próximos a um esgotamento de metal
Sirenes para avisar do nosso derretimento
Não pudemos ver aquela manchete

Agora vemos um horizonte
Estaremos aqui para ficar
Se você não consegue ver nosso sinal
Você deve ser cego

Mesmo assim nós vamos
Mesmo assim nós vamos
Mesmo assim nós vamos
Na rodovia de metal
Mesmo assim nós vamos

Avise, não morra em nossos joelhos
Brilhe, orgulho como podemos ser
Chegou a hora de parar de te agradar
Ei, cara, vamos nos reunir
Nossa força durará para sempre
Nos empurre o máximo que puder

Agora vemos um horizonte
Estaremos aqui para ficar
Se você não consegue ver nosso sinal
Você deve ser cego

Mesmo assim nós vamos
Mesmo assim nós vamos
Mesmo assim nós vamos
Na rodovia de metal
Mesmo assim nós vamos

Quantas vezes
Um homem deve cruzar a linha de chegada
Para encontrar o caminho certo

Mesmo assim nós vamos
Mesmo assim nós vamos
Mesmo assim nós vamos
Na rodovia de metal
Mesmo assim nós vamos

Video-Clipe de When the Rain Grows:


Video-Clipe de Perfect Gentleman




terça-feira, 5 de agosto de 2014

O classic rock está atrapalhando o rock, principalmente no Brasil

A cena surpreendeu quem estava no estúdio e os ouvintes de uma das mais populares emissoras de rádio da África do Sul. O Deep Purple estava inteiro nos estúdios amplos na Cidade do Cabo, onde deveria se apresentar naquela noite, no segundo semestre de 2005, na turnê do razoável álbum “Rapture of the Deep''. Entrevista morna, apresentador e jornalistas pouco informados e pouco estimulados, e eis que uma pergunta sobre o posicionamento da banda no mercado desperta a fúria de Ian Gillan, o vocalista.


Sem se dirigir especificamente a alguém, disparou sem ser interrompido: “Depois que inventaram essa história de classic rock, fomos exilados a um nicho de mercado que nos condena a tocar as mesmas músicas para as mesmas pessoas de sempre. O classic rock nos limita a uma faixa de mercado que impede que consigamos divulgar nossa música em toda a sua plenitude. É maravilhoso que sejamos reconhecidos pelo que criamos em 'Smoke on the Water' ou 'Highway Star', mas, caso alguém se importe em saber, fizemos muito mais coisas depois disso, boas ou ruins, mas fizemos. Agora mesmo estamos divulgando novo álbum, mas as pessoas só querem saber do que gravamos 35 anos atrás, das histórias que vivemos na Suíça em 1971 ou no Japão em 1972, ou até mesmo por que Ritchie (Blackmore) não está mais na banda. Santo deus, isso ocorreu há 12 anos e ainda nos perguntam isso, como agora nesta entrevista. O rótulo classic rock é pernicioso e pode no futuro prejudicar o próprio gênero musical, amarrar o rock em uma camisa de força em que o novo será diluído de tal forma que sucumbirá às músicas de sempre, que por sua vez se consumirão de tal forma de que nada restará.''

As proféticas palavras de Gillan se materializaram nove anos depois, em uma realidade de mercado que está privilegiando o certo em relação ao duvidoso, onde o risco foi escanteado e as novidades ficam cada vez mais relegadas a espaços alternativos. Para músicos e profissionais envolvidos com música, especialmente no Brasil, o predomínio ilusório dentro do rock do rótulo “classic'' e consequência direta do novo modo de se relacionar com a música – e que necessariamente não é uma coisa boa infelizmente.

“O mercado musical como um todo, em todo o mundo, está menor e mais pulverizado. Ao mesmo tempo, a música perdeu um pouco de sua importância na vida das pessoas. Hoje percebemos que há menos disposição das pessoas em procurar pelo novo, em curtir e saborear a produção, seja de um grande artista ou de um iniciante. O avanço da tecnologia, tão esperado e ansiado por todos, tem o seu lado ruim: diluiu a música e arte em geral, tornando-as supérfluas. Por conta disso, o ouvinte/fã de música atual se contenta com pouco e não valoriza mais o que ouve e quem toca. E, curiosamente, no Brasil esse fenômeno atingiu em cheio o rock. Tente lembrar qual foi o último grande hit do rock nacional…'', lamenta um executivo importante do mercado musical brasileiro, que pediu para não ser identificado.

Quem vai a um show do U2, dos Rolling Stones ou do Black Sabbath não tem o menor interesse em ouvir as músicas novas do último álbum. Ouvintes preguiçosos e acomodados só querem ouvir “Sunday Bloody Sunday'', “Satisfaction'' e “War Pigs''. A coisa piora quando observamos o que ocorre nos palcos dos botecos europeus, brasileiros e norte-americanos: só músicos tocando covers, de preferência versões de sucessos antigos, gravados no mínimo há mais de 20 anos. Hits mais recentes? No máximo alguma coisa de Coldplay e Radiohead, e dos primeiros álbuns.

O desespero é geral nas grandes cidades brasileiras. Nos poucos locais onde ainda se pode ouvir rock, quase não se vê trabalho autoral. Cinco dias por semana são dedicados aos “clássicos'' do rock e do pop rock, geralmente executados por instrumentistas desmotivados para um público que normalmente os ignora, exceto quando algum megahit do passado é executado.

Os festivais de rock ainda resistem em algumas cidades, mas com um público bastante específico, me geral na área do heavy metal. Os grandes eventos, do porte de um Planeta  Rock ou Abril Pro Rock, ainda dependem de um “nomão das antigas'' parta garantir público – ou, ao menos, algum público. O Planeta Rock, por exemplo, ocorrerá em agosto em São José do Rio Preto, capitaneado por Ira! e Ultraje a Rigor, na ativa há 33 anos, Raimundos, que surgiu no começo dos naos 90, e a banda carioca Detonautas, que aos 15  anos de carreira caiu no caldeirão do classic rock. Cadê uma banda nova? Ou mesmo alternativa?

É mais do que óbvio que o classic rock precisa ter o seu espaço, só que, quando ele predomina, e de forma ostensiva, como no Brasil atualmente, todos perdem, justamente em um momento em que o rock, como um todo, perde cada vez mais espaço para o abominável funk de inspiração carioca e para gêneros de qualidade no mínimo questionável, como o pagode e o sertanejo.

Renato Lacerda, que trabalha como contador,  é guitarrista do Sarkastic, de São Paulo. Sua banda já gravou duas demos com seis músicas próprias cada, na linha do metal tradicional. Há seis meses não consegue agendar uma apresentação, mesmo com o quinteto se dispondo a tocar de graça. “Ninguém nem para para nos ouvir quando dizemos que temos trabalho autoral. Não tem lugar na Grande São Paulo para tocar. são raros os bares como o Blackmore e o Manifesto, que têm uma agenda lotada e fila de bandas esperando uma chance. Simplesmente não dá.''

Para conseguir tocar por cachês simbólicos, o Sarkastic faz covers do Iron Maiden em algumas festas e bares da zona oeste de São Paulo. “Só assim para ter o gostinho de tocar. E ainda assim temos problemas, pois a galera, em vários locais, só quer ouvir as mesmas três musicas conhecidas do Iron. Uma vez fizemos um repertório com coisas bem legais, mas não tão conhecidas em um bar na zona norte de São Paulo, e teve gente que reclamou com o dono do bar. Nunca mais recebemos convite daquele lugar'', reclama Lacerda.

Toninho Pires sofre com os mesmos problemas. Fotógrafo publicitário, costuma dizer que sua profissão é a música, ainda que seus palcos sejam bares e restaurantes pouco glamourosos da Grande São Paulo. Em dupla com parceiro Ricardinho (teclados, percussão e voz), o violonista e guitarrista ensaia uma tímida carreira autoral, apostando em um pop rock simples com viés de MPB. Vende um CD demo nas apresentações por R$ 5, gravado de forma apressada e sem requintes de produção. O problema é na hora de exibir as canções próprias.

“Não me lembro da última vez em que toquei uma música minha. Tenho de respirar muito fundo para suportar tocar as mesmas músicas de sempre da Legião Urbana, do Paralamas do Sucesso, do Ultraje a Rigor, Raul Seixas… Nada contra esses artistas, o problema é que só isso. Público e proprietários só querem isso. Já teve bar que me proibiu de tocar músicas próprias.Em outro, tive que mostrar com antecedência as músicas, e não acreditei que algumas foram vetadas pelo dono do local porque ele achava que não eram conhecidas'', diz Pires resignado.

O classic está matando o rock? Quem diria que um dia estaríamos discutindo tamanha heresia. Se não não está matando, certamente está contribuindo para a sua asfixia. É só observar quem é que consegue ainda algum tipo de vínculo com uma gravadora e colocar seus álbuns nas lojas de todo o  país – Titãs, com “Nheengatu'', Skank, com “Velocia'', e Pitty, com “Setevidas'', por exempl0.

Existe algo que se possa fazer no médio prazo para abrir espaço aos novos artistas, sem que seja necessário satanizar os clássicos e veteranos? “Tocar, tocar e tocar cada vez mais, e cada vez melhor, para três pessoas ou para mil pessoas. Fazer com que o próximo show seja melhor do que o anterior. É só isso o que resta para para artistas independentes. Trabalho de qualidade e persistência são fundamentais para que a música seja reconhecida. Reclamar não só não ajuda como piora as coisas'', recomenda Beto Bruno, cantor da bem-sucedida banda independente Cachorro Grande, do Rio Grande do Sul.

Por Marcelo Moreira.
Matéria publicada originalmente na Combate Rock no dia 04/08/2014 às 06:49

sábado, 26 de julho de 2014

Crítica: Last Of A Dyin' Breed - Lynyrd Skynyrd


A rebeldia Redeneck está no DNA do Lynyrd Skynyrd. A banda expressa todo o sentimento da alma norte-americana.
Os temas do Lynyrd Skynyrd giram em torno de armas, Deus, mulheres, sexo, bebidas, vida simples, sonho americano, viagens, saudades da terra natal, vida na estrada, família e liberdade.
Aproveitando gostaria de saber de onde surgiu o mito que as letras deles eram ameaçadoras? Pra quem? É tudo o que admiro.
Tem banda fazendo letra sobre comunismo e fantasiando isso de libertação do homem. ISSO é ameaçador!

Enfim, políticas a parte, este fim de semana peguei para ouvir o disco Last of a Dyin' Breed, lançado em 2012 e, como sempre, comecei procurando por reviews já feitos para ver qual é a opinião geral sobre o disco.

Todos Reviews que li sobre o Last Of A Dyin' Breed, sejam aqueles que falavam de forma positiva ou negativa, falavam quase sempre a mesma coisa do disco. Trata-se de uma banda flertando com os "tempos atuais". Expressões-chave que saltam nas resenhas deste disco são "mais moderno", "mais contemporâneo", "novos ares", "menos tradicionalistas" e, talvez, por isso, não tenha agradado tanto os mais fieis e apegados a coisas como "fórmula primeira". Para muitos as chamas do calor do sul não parecem mais tão escaldante como costumavam ser.

Quando eu fui ouvir o disco eu tive que discordar com os que torceram o nariz. Como sou um bom ouvinte de passagem (negrita ai o bom na sua cabeça), não me incomodei tanto com a proposta, alias, não me incomodei nem um pouco. O disco tem uma certa influência meio Hard Rock e Pop, mas nada que comprometa a qualidade e o que importa, pra mim, não é tanto o quanto a banda se mantém fiel ao estilo mas o quanto a banda consegue apresentar qualidade no seu trabalho e esse aqui indiscutivelmente tem.

Imagine uns caipiras que, num belo domingo ensolarado, resolvem pegar suas Pick-Ups coberta de lama e foram para algum centro urbano fazer uma visita. É mais ou menos esse o "feeling" do disco. Este disco deixa um pouco para trás o estilo clássico e adota uma roupagem mais moderna do Southern Rock.

Pra mim é surpreendente agradável o quão jovem o grupo soa neste álbum e isso, para mim, foi crucial para avaliar positivamente este disco.

Não há uma música "menos que boa" neste disco, mas algumas se destacam como Last of Dyin' Breed, Homegrown (que é bem moderno para os padrões Lynyrd Skynyrd), Mississipi Bloody, que traz de volta aquele traço mais "caipira" que consagrou a banda, Do It Up Right e Low Down Dirty.

Temos que dar um destaque também para Life Twisted que é a música preferida do guitarrista Mark Matejka.



As letras pairam sobre o tema comum da banda já mencionado, Homegrown é uma música bem sexual, uma homenagem as mulheres sulistas, comida caseira (Homegrown) para eles. Outra de cunho meio erótico é Good Teacher, uma música mais puxada para o Hard que fala sobre a "escola da vida" e suas "professoras".
As outras músicas versam mais sobre lições de vida, saudades, sonhos e liberdade. Temos algumas como Nothing Comes Easy, uma ode ao trabalhador, e Poor Man's Dream, que é sobre o homem humilde; letras que lembram um pouco Grand Funk Railroad. Temos também outras como Start Livin' Life Again, uma canção com mensagem meio religiosa, muito bonita.

Abaixo alguns videos:

Last of a Dyin' Breed



Homegrown (Clipe que lava a alma)



Good Teacher


terça-feira, 22 de julho de 2014

Crítica: Nowhere to Hide - Praying Mantis


Nowhere to Hide é um disco que você ouve e custa a acreditar que ele foi lançado em 2000 e não em 1985. A resistência estilística do Praying Mantis em manter seu formato retrô há décadas é um dos maiores atrativos da banda pra mim.
Este disco contem os mesmos elementos de Hard Rock melódico e AOR que vai te fazer lembrar de bandas como Styx, Asia e Rainbow (pós-Dio).
Harmonias vocais bem trabalhadas com Tony O'Hora mais uma vez mostrando ser um grande vocalista, bons momentos com o twin-guitars onde a dupla Tino Troy e Dennis Stratton conseguem se mostrar técnicos sem cair num "ego-trip" entendiante e, lógico, forte presença de teclados.
O problema deste disco é que, ao longo da audição, comecei a achar enjoativo, talvez teclados demais e harmonizações vocais muito exageradas contribuíram para isso.
Entre prós e contras minha nota ao disco é 7.
É um bom disco embora eu não goste muito. Você já deve ter passado por esse paradoxo de achar um disco bom mesmo não gostando muito. Não há nada que eu posso dizer que deponha contra o disco, todas as qualidades que eu citei realmente existem nele mas, talvez, não existam da forma ideal. É um desafio muito grande para uma banda fazer um tipo de Hard Rock melódico sem soar cansativo, é preciso equilibrar os elementos de exagero, conseguir criar harmonias maravilhosamente pegajosas e, na minha opinião, este disco não conseguiu nenhum desses objetivos.
Se você estiver procurando algo nesse mesmo estilo da banda recomendo outro disco, o fantástico Forever in Time.

Segunda audição (20/09/2014).

As vezes você precisa dar um tempo para absorver melhor uma obra e descansar seu cérebro para poder, mais tarde, dar um veredito um pouco mais amadurecido sobre ela. Isso pra mim acontece tanto para discos quanto para livros.
Resolvi então dar uma segunda chance a esse disco e, para minha surpresa, a minha segunda audição desse disco está me soando muito mais agradável do que da primeira vez que eu ouvi.
Nowhere to Hide é um disco lindo. Retiro o que disse dele ser cansativo. Ele estava sendo cansativo apenas naquele primeiro momento que escutei. Se você se "deixar conduzir" pelo um belo conjunto de teclados e guitarras melódicas quanto pela uma melodia vocal belíssima você terá uma experiência agradável, isso eu garanto.
É difícil eu destacar uma música já que todas tem elementos muito semelhantes e em qualidades semelhantes que no final se equivalem. As músicas que mais me chamaram a atenção neste disco foram Cruel Winter (que tem riffs abafados belíssimos) e a balada Whenever I'm Lost, mas todas são, de certa forma, músicas muito boas.
Vou subir a nota desse disco de 7 para 8.

domingo, 20 de julho de 2014

Crítica: A Cry for the New World - Praying Mantis



O Praying Mantis é uma banda da New of British Heavy Metal. Sua proposta musical é equilibrada, um pouco mais melódica que o Iron Maiden e um pouco mais agressiva que o Def Leppard.
É uma boa banda, mas há algo que me chama atenção nela em especial, seus elementos mais puxados para o Hard Rock e para o AOR. O problema é que eles mergulharam nesses estilos de vez fora de época, nos anos 90, onde já estavam fora de moda. Cry for the New World, lançado em 1993 é um desses discos que te remetem aos anos 80, mesmo sem pertencer a esta década.
Cada música teria potencial de ser um grande hit radiofônico se fosse lançada com pelo menos cinco anos de antecedência.
Tudo soa nostálgico neste disco. Começamos com Rise Up Again, uma ótima canção para filmes dos anos 80, com todos os adoráveis clichês possíveis na letras: "Don't give it up", "You are strong", "I will rise up again", "Stand up and fight". Cry for the New World é o grande destaque do disco, com um refrão sensacional, poucas bandas tem esse talento de fazer refrões grudentos, fazer um refrão grudento é sinal de talento, nem ousem dizer o contrário. De praxe temos baladas como Moment in Life e Dream On, um disco de Hard/AOR no melhor estilo anos 80 precisa de baladas. Power Ballads como Open Your Heart. Dangerous, Letting Go, One Chance, Fight to Be Free e Journeyman são músicas que não fazem feio, todas elas combinando certa pegada, bons momentos melódicos, refrões bem construídos e bons solos, nada muito firulento ou exibicionista, tudo tocado na medida em que a música pede. The Final Sacrifice encerra o disco, uma música instrumental de dois minutos e meio.

Cry for the New World (ao vivo em 95)



Letting Go (Ao vivo em 95) - Detalhe, é o Clive Burr na bateria


 
Letting Go (video-clipe oficial)



Rise Up Again (ao vivo em 95) - As guitarras dobradas parece ser uma ideia bastante aproveitada de Dennis Straton, que ele trouxe do Iron Maiden

sábado, 19 de julho de 2014

Crítica: Tattoed Millionarie - Bruce Dickinson


Tattoed Millionarie é o primeiro disco solo de Bruce Dickinson, lançado quando ele estava no Iron Maiden, que vinha sendo composto pouco antes do lançamento do No Prayer for the Dying e foi lançado pouco tempo depois, se eu não me engano.
Não vou dar muitos detalhes sobre a gravação, da ideia, já que vocês podem buscar essas informações em outros sites como a Wikipedia. Quero me focar aqui em analisar a proposta do disco.
Como bem disse a crítica na Allmusic, o disco está longe de ser uma cópia carbonada do Iron Maiden. É um disco Hard Rock/Pop Metal com músicas que poderiam se comportar muito bem em discos de bandas como Def Leppard e Winger.





A proposta pode assustar mas, vai por mim, o disco é ótimo.
Com este álbum, Dickinson fez o que seu colega britânico Rob Halford fez em alguns dos lançamentos do Judas Priest na época, uma sonoridade "mais comercial", de influência mais pop. Um Hard Rock mais, digamos, radiofônico, ou quase.
Digo "quase" pois, tirando Born'58, Tattoed Millionarie e All the Young Dudes, as músicas são cantadas hora num estilo mais agressivo, hora num estilo mais operístico (no estilo Iron Maiden mesmo), coisa que não é muito apreciada em rádio e dificilmente cairiam fácil no gosto do público comum.
A proposta pra mim não é soar comercial, apenas corre "esse risco" dado ao afastamento brusco do tipo de música que estava sendo feita no Iron Maiden. Bruce Dickinson claramente fez este disco da forma mais despojada e descontraída possível, realmente é possível notar o quanto ele deve ter se divertido nele e esse é talvez um dos seus pontos mais fortes. O tom despretensioso de fazer um disco de Hard Rock, um estilo mais clássico, simples, sem firulas e sem "medo" de "parecer comercial" (acredite, isso faz sentido) são os pontos forte do disco.
As músicas merecem ser comentadas. A que eu mais gosto é a música que abre o disco, Son of Gun, uma música com uma letra interessante e misteriosa sobre um pregador (lembrou-me vagamente temáticas do Neil Young) e uma performance vocal primorosa e dramática. Tattooed Millionaire é uma música muito gostosa e tem uma letra bem divertida. É uma canção Hard-Rock/Pop-Metal que ironicamente debocha da postura de integrantes de bandas deste estilo, do cara "tatuado e milionário" (no melhor estilo Motley Crue ou Poison, não fazendo referências diretas a essas bandas), que é, para Bruce, patético. Segundo Nikki Sixx do Motley Crue essa música surgiu de uma frustração do fato dele ter dormido com sua mulher (vai saber se é verdade também, enfim). Born in 58 é uma música muito agradável com uma ótima letra: ao que parece é uma homenagem de Bruce ao seu avô. A canção também fala de um tempo onde o homem tinha orgulho do seu trabalho, do seu país e que lutar por coisas hoje considerada "antiquadas" como a noção de certo e de errado eram ensinadas Música nostálgica e moralizante por natureza. As músicas mais agressivas do disco são Hell on Wheels, Dive! Dive! Dive! e Lickin' the Gun, com ótimos riffs, vocais rasgados, temática que pairam no universo comum do Rock'n Roll, letras sexuais, de duplo sentido, velocidade, carros, etc. As 3 músicas trazem em si elementos típicos de bandas como AC/DC. Gypsy Road é uma power-ballad que fala sobre liberdade. All the Young Dudes é um cover memorável, com lindas frases de guitarra. A música é de David Bowie, gravado originalmente pelo Mott the Hoople em 72. As duas músicas que fecham o disco são mais puxadas para um Rock mais "setentista", clássico. Zulu Lulu lembra muito alguma coisa dos Rolling Stones ou do Alice Cooper e No Lies lembra bastante algo de Led Zeppelin, especificamente Whotta Lotta Love.
Concluindo, é um disco corajoso pois busca uma sonoridade totalmente diferente daquela que o consagrou, divertido, bom de se ouvir. Bruce acertou a mão, meio que "sem querer".

Abaixo alguns videos:

Son of Gun. A performance de Bruce e Janick Gers em palco são sensacionais!



Tattoed Millionaire (Clipe). Digamos video-clipe é bem "Monty Pyton", bem criativo, cômico e genial (tal como a letra desta música).



Tattoed Millionaire (Ao Vivo)



Born In '58



Hell on Wheels



Dive! Dive! Dive! Janick Gers Rules!



Lickin' the Gun. Janick Gers Rules!



Gypsy Road



All the Young Dudes (clipe)



All the Young Dudes (ao vivo)



Zulu Lulu (com solo de bateria)



No Lies

sábado, 11 de janeiro de 2014

Crítica: Paper Money - Montrose



Paper Money é o segundo disco lançado pelo Montrose, em 1974. É o último disco gravado com o vocalista original, Sammy Haggar, que sai da banda depois uma briga com Ronnie Montrose durante a turnê européia de promoção do disco. Sammy Hagar depois faria carreira no Van Halen e mais recentemente no Chickenfoot e, já em 1975, Bob James o substitui na banda. Esse disco também marca a entrada do baixista Alan Fitzgerald, substituindo o baixista original Bill Church.

Diversidade musical é a grande força motriz de Paper Money. O disco representa uma vontade de Ronnie Montrose ampliar seu leque de estilos em vez de fazer um disco como o anterior, que era 100% Hard Rock/Proto-Metal. Ele é mais cadenciado, menos enérgico, mais suave e, de certa forma, comercialmente mais palatável que o anterior, tanto que vendeu duas vezes mais que o primeiro, que era um verdadeiro "soco no estômago". Isso pode ser decepcionante caso você chegue a esse disco esperando a mesma euforia e o peso do anterior, no entanto, é essencial sempre dar uma segunda chance a um bom disco como este.

O disco abre com uma canção meio pop chamada Underground, um cover de Chunky, Novi & Ernie, uma banda norte-americana liderada por Lauren Wood. Um Hard Rock mais puxado para o Pop, uma sonoridade fácil (apesar da letra sombria) com um som de órgão acompanhando simultaneamente os riffs de guitarra.
Connection é outro cover que aparece no disco, desta vez, de uma banda um pouco mais conhecida, Rolling Stones. A versão do Montrose é uma ótima balada acústica, um dos pontos altos do disco.
The Dreamer é outro grande destaque do disco, com uma afinação baixa e o ritmo arrastado, ela lembra mais ou menos Black Sabbath, especialmente o Master of Reality.
Starliner é uma música instrumental que leva muita influência dos anos 60.
A energia e o apelo sexual Hard Rock do primeiro disco aparece na faixa I Got the Fire, uma das melhores do disco e do grupo. O Iron Maiden faria um cover dessa música em 2 momentos, uma com o Paul Di'anno e outra com Bruce Dickinson no single Flight of Icarus, lançado em 1983.
Spaceage Sacrife é uma boa música, cantada num ritmo mais puxado para o Blues.
Ronnie Montrose ainda expande sua própria presença emprestando seus vocais na balada We're Going Home, uma música que tem acompanhamento de mellotrons, cortesia do tecladista Nick DeCaro, que trabalharia com Ronnie Montrose novamente na sua banda Open Fire
Para fechar o disco temos a galopante Paper Money, uma boa música fechando um bom disco. Uma cozinha de baixo e bateria excelente, diferente de tudo que a banda fez até aquele momento.

Eles chegaram a aparecer no programa musical The Midnight Special, da NBC, com as músicas Paper Money e I Got the Fire.

Abaixo: